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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O Parasita

- Sabes...tenho pensado...pensado no que raio é que me faz continuar a acordar todos os dias - de madruga de céu aberto, enquanto Daniel bebia a primeira tequila que a esplanada serviu nesse dia - Tenho pensado se existe um propósito maior que me levanta as pernas de manhã mesmo não querendo...sem vontade...sem razão.
Carlos ainda não não se tinha sentado, os cafés estavam a demorar a sair e ele esperava-os ao balcão.
De qualquer da maneiras, a conversa já ia adiantada.
- Rapaz tens de te acalmar - dizia Carlos com os dois cafés na mão sentando-se à mesa - eu já te disse tudo o que tinha a dizer, tu sabes o que eu penso...só tu sabes o que queres fazer daqui para a frente.
- Será coincidência? Tenho pensado se é o meu trabalho que atrai tudo isto.
- Sim de certeza que há, trabalhas com mortos, a tua cabeça só pensa em morte, atrais a morte - Carlos e a sua ironia - faz perfeito sentido para mim.
Um esboço de sorriso deu-se na cara de Daniel, antes de dar mais outro golo.
- Acreditas que quis pagar ao gajo que fez a autopsia ao meu pai...para a ser eu a fazer?
Parando com a chávena ainda no ar, Carlos pousa-a, pensa, diz:
- Não só acredito, como não sei porque não o fizeste...
- Depois de pensar, percebi que já tinha visto o que iria ver. Mais do que isso, conclui finalmente o que suspeitava à tanto.
- E o que é que suspeitavas?
- Ao fim de tantos anos a viverem juntos...só prova que nem ele, nem tu, nem eu, nem ninguém esta certo do que lhe pode passar pela cabeça amanhã.
- Rapaz, olha que podemos - com uma pequena risada - o que ele fez teve uma razão, mesmo que sem lógica nenhuma, teve alguma motivação, e havemos de descobri-la, tens é de dar tempo ao tempo.
- Não percebes...nós não controlamos tudo o que fazemos...o coração bate, a pele soa...mas podes ou não controlar a respiração, e os pensamentos...esses controlando-os ou não, controlam-te a ti.
- Ok, mas é isso que te estou a dizer, vamos tentar perceber o que se passava na cabeça dele.
- Não me estás ouvir...eu não disse que o parasita era a ideia, disse que o parasita esta dentro de nós, no nosso crânio - pousando o copo já vazio - somos o corpo de um parasita, a pele de um parasita que nos dá um toque, aqui e ali, que nos desvia para a esquerda ou para a direita. Depois de tudo isto, só pergunto se ele me acorda todos os dias, ou se ainda não me disse que me quer a dormir.
- E de quem estás a falar?
- Vamos descobrir?


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Tudo

Adoro quando Tudo te acorda.
Te diz que Tudo ainda existe e que quer que sangres mais uma gota para Sua boca.

Perdoar

Penso no que tentam expressar quando dizem que devemos perdoar.
Em que consiste realmente perdoar?
No que resulta dizer à pessoa, ou para mim mesmo, que aceito o que ela fez e que vou seguir.
Por favor digam-me como funciona.
DIGAM-ME.

Se não é apenas dizer, como é que o passo a sentir, como é que assim do nada passa a fazer parte da minha realidade, que aceitei e segui com o que a pessoa me fez.
EXPLIQUEM-ME.

Nada apazigua o que vai em mim.
Só uma pessoa o fará, não uma palavra.
Mas então...
Se não vivo com o que vivi, não conseguirei viver.

Medo do Escuro

A minha história começa desde que eu me lembro de ser eu.
Quando tinha os meus 4 e 5 anos, sempre que não conseguia dormir, e acordava às 2 e 3 da manhã, via o meu quarto negro, com a minha luz a entrar pela janela, via formas e monstros, a passar e a saltar de um lado ao outro do meu quarto.
Olhavam sempre para mim, o caminho todo, de olhos penetrantes e parados, enquanto o resto do corpo se movia, como liquido no espaço.

Se deixasse o estor mais aberto, a história era a mesma.
Sombras, luzes, sons que eu não conhecia nem reconhecia à luz do dia, à noite tornavam-se em seres de outro mundo, como seres do Limbo que se ligavam ao meu mundo pelo portal que era a minha janela.

Hoje tenho saudades de os imaginar, tenho saudades de temer apenas o que está na minha cabeça.
Será não continua a ser o mesmo?
Hoje passo a maior parte da noite a dormir, e se acordo, só imagino o quem já vi e não quero voltar a ver, imagino quem deixei de ver e queria ver para sempre.
Quando acordo à noite, sinto-me frio e só debaixo do meu colchão.
Sinto que tudo piora, sinto o quão tudo piro cá dentro, sinto o que o pior está para chegar, sinto que o melhor era acabar ali.
Adormecer e deixar de existir.

Mas.
Mas relembro-me que de manhã vou deixar de pensar assim.
De manhã tudo vai voltar à temperatura normal, e vou voltar a pensar no que realmente interessa.
Relembro-me ainda que que na próxima noite, tudo vai voltar.
O Medo do Escuro.
Ciclo Perpétuo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pequeno momento

Hoje durmo feliz.
Descansado durmo hoje, sabendo que estou bem na vida que segui que construí para mim, que fui recompensado pelo trabalho que fiz.
Costumo querer trabalhar para a felicidade dos outros.
Gosto de agradar, gosto de sentir que dei algo de mim a alguém que agora está melhor do que antes do que lhe dei.
Mas hoje foi de mim para mim.
Pelo menos hoje por um dia, por um momento, vou adormecer sabendo que consigo ser bom para mim próprio, que sei fazer sentir-me bem.