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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Bandeiras

Estamos naquela altura do ano em que voltamos a cantar jesus sem querermos, discutimos se ele nasceu no dia 25, se devia-mos receber prendas nesse dia ou dia 6 de Janeiro, e lembra-mo-nos que existem crianças no hospital.
Para além da minha falta de espírito natalício este ano, pela primeira vez algo me irritou bastante este Natal.
Enquanto passo pelos corredores de Lisboa de autocarro, reparo na imensidão de janelas que agarram as agora famosas bandeiras vermelhas com o bebe jesus no centro.
Chamem-me o que quiserem, mas pessoalmente mais me parecem bandeiras nazis, e se eu tivesse uma na janela, tinha a policia em casa em dois tempos.
Eu não devia importar-me sequer, devia até dizer que fazem muito bem, estão expressar a sua fé ao mundo, e são livres de o fazer.
Não interessa, algo me arrelia em ver bandeiras vermelhas verticais com bebés nus nas janelas.
Guardem as vossas crenças dentro de casa, fechadas, num cofre, guardado na retrete.

Materialidades

Voltámos a esta altura do ano, em que consumir e comprar é a palavra de ordem.
Não, não tenho nada contra isso, aliás, com o devido respeito pelo ambiente e pelo próximo, acho que se devia consumir ainda mias.
Digamos que tenho uma relação com este consumo um pouco diferente.
Incluindo o espírito Natalício, que adoro (conversa para outro texto), tenho uma visão sobre o consumismo bastante mais feliz do que a maior parte.
Nada do que compro me faz feliz.
Vamos partir dai para que fique claro que não fico cego quando olho para o meu novo iPad, mas estas "coisas" fazem-me um pouco mais feliz.
Compro com bastante cuidado, compro só o que posso pagar na altura, compro o que realmente sei que me vai servir para algo.
As coisas servem um fim, não o são.
Mas pessoalmente há algo mais a estas coisas que compra-mos, elas mexem com algo mais em nós.
Seja um livro, um computador, um filme ou mesmo um carro, elas, embora ao olhar de muitos, caprichos que o mundo nos impôs, colmatam não apenas uma necessidade, mas uma necessidade pela novidade, pela evolução, pelo sentimento de renovação, talvez até, por uma necessidade do cérebro de não parar.
Ás vezes sinto isso, sinto que embora algo melhore com a compra que fiz, e embora me sinta mais feliz pois agora vou mais longe do que ia antes, sinto que nada me parece me parece preencher, algo que notei principalmente após o Natal, onde recebi o que queria, e mesmo assim, sinto que foi apenas outro Natal, que passou, que se foi, que eu não vivi.
Não vou ao ponto de dizer que tudo não passa de uma ilusão, que nos revestimos de coisas que não precisamos, que são apenas peças que tentamos encaixar a força na secção cerebral que controla o amor e a felicidade.
O que sinto é que não consigo lá encaixar mais nada.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Noite - pt5

Tinha sido um dia e natal cansativo, bastante.
A usual passagem pelo computador sem fazer nada é mesmo assim obrigatória, mas rapidamente percebi a inutilidade desta cadeira em comparação à cama.

Não sei porquê, mas acordei, num sonho, exactamente onde eu estava na minha, na mesma posição, às duas da manhã aproximadamente.
Lembro de sentir medo, sem a mais absoluta razão para tal.
Vi o meu quarto escuro, com alguma ténue luz da porta, e uma imagem em geral desfocada e com estática.
Excluindo a luz, é assim que acordo que todos os dias.
Mas ali estava eu arrepiado, até que disse: "Se estás ai, prova-o"
Geralmente a mais inteligente frase em qualquer filme de terror.
Sem quase atraso nenhum, fui puxado arrastado para o fundo da cama, como se lá existisse um poço aberto para o espaço sideral.
E gritei sem som algum, agarrando-me aos lençóis que voavam e abanavam, comecei a ouvir um som de baixa frequência a ecoar pelo quarto.
Ao mesmo tempo que gritava, pensava, tentava arranjar um explicação lógica para o que estava acontecer, que não podia ser nada paranormal, que tu do ficaria bem.
E tudo ficou, assim que acordei, na posição original, pensando para comigo:
"Porque raio é disseste aquilo..."

Noite - pt4

Estudando.
Tentando ver todos os pormenores na imensidão de camadas coloridas do AutoCAD.
De cabelo oleoso ou lá como o chamam, começo a enrolar as suas pontas que nem menina apaixonada.
É o pouco que faço às 4 da manhã.

A determinado, de olhos semicerrados, esgotados, a lutar por mais 15 minutos de radiação,
deixo de enrolar o cabelo para que possa usar as duas mãos, esperando que me despachem.
Mas mesmo com as duas mãos no teclado, uma mão continuou a fazer espirais numa ponta do meu cabelo, torcendo e torcendo.
Demorei ainda a reagir e ao olhar para trás, deixei de a sentir, deixei de o sentir, e nada vi para alem do meu quarto, e uma cama que chamava por mim.

Desabafar

Desabafar parece-me ser esta universal receita que os amigos encontraram, não só de se aproximarem emocionalmente de nós, mas de nos conhecerem.
Parece-me também que a acham ser um comprimido de amnésia, que neste caso não se engole, cospe-se.
Se eu te contar toda a merda que me vai na cabeça, será que a diarreia vai parar?
Nada do que eu diga vai mudar o que penso.
E se houver, eu não o sei dizer.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Black Friday

Não caia-mos na vulgaridade de fazer chacota do parvo comum americano.
Matar por meias é o destino de todos nós afinal.
Matar por descontos, por sua vez, não me parece tão necessário.
Além de poder-mos encomendar pela internet tudo o que quisermos (e provavelmente ainda mais barato que na loja), não necessitamos de acampar durante dias às portas de grandes centros comerciais, gastando tempo, dinheiro e energia, já para não falar das pequenas garrafas de gás pimenta que terão de utilizar caso a força não resolva o assunto.


Neste caso são telemóveis, que parecem estar a 100% de desconto.
Sem forçar um comentário ao video, só me pergunto:

O que aconteceria se fosse comida, num futuro com escassez de alimentos?

Penso que filmes como Guerra dos Mundos são, afinal, pouco precisos quando tentam relatar o comportamento humano nestas ocasiões.
Quando o Homem vê apenas o seu objectivo, perde a sua visão lateral.
"Não quero saber se alguém morre aqui, desde que eu consiga o meu telemóvel...mais barato"

Infelizmente, a evolução apenas chegou a alguns.

Criticamos o mundo Árabe quando em Meca morrem dezenas espezinhados na multidão.
Pessoalmente, a única diferença é o local...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Adeus


Porque agradeço a infância que me deste
Digo-te Obrigado

Porque nunca esquecerei e sempre te quererei lembrar
Digo-te até à Próxima

Porque não aguentei ver-te sofrer
Digo-te descansa em paz

Porque não te voltarei a ver
Digo-te Adeus

Porque sei que não estás a ouvir
Peço-te que ouças o que te quero dizer.

É nestes tempos que percebemos o quão frágil o corpo é, o quão não passamos de um monte de carne ambulante, movido por circuitos eléctricos e hormonas.
A nossa dependência de algo tão fraco é quase irónica.
Ganhámos consciência de que a podemos perder a qualquer segundo.
Podemos cessar de existir num segundo, como podemos morrer um pouco mais todos os dias.
E todos os dias morreste um pouco mais.

O sofrimento que nunca mostraste, hoje parece ter sido em vão, hoje parece não ter passado de um segundo no tempo, um vácuo no tempo passado.
O que existiu é agora nada, gravado na memória, nada existe.
Deixaste-nos, na minha opinião, tarde de mais.
Serei louco?
Durante uma semana rezei pela tua morte a Deus nenhum.
Desejei que tudo parasse, e quando parou...nada
A minha vida  que passou por ti, fez a tua passar por mim.

Senti alguma vergonha de não te ter reconhecido.
Se não te falassem, não saberia que eras tu.
Sei que ainda eras tu lá dentro, mas eu não percebi.
Que se lixe comer, pediste um capuccino, antes que o corpo decidisse ir sem levar o sabor que tanto adoravas.
Enquanto bebias, eu observava o mundo que circulava ao nosso lado, à nossa frente.
Esse corre sem querer saber, esse corre cansar, esse corre sem sofrer.
Esse nunca para, e só temos acompanhar, sem pensar, sem ver.



Eles que não sentem
Sortudos...


sábado, 1 de dezembro de 2012

As Cortinas

E elas fecharam-se
Pela última vez

Não mais a janela será teu misterioso refúgio
Teu olhar para o mundo, no teu incompreendido estágio
De vida sem vida , olhar que não olha, parado no tempo
No teu tempo, no teu próprio relógio.

E as cortinas fecham-se
Como os teus olhos
Não compreendem a diferença
E felizmente nunca compreenderam

Alheios ao que se passava para lá da janela
Olhavam
Mas não Viam
Outra dimensão dormente
Irracional para uma mente perturbada
Adormecida
Como estás

Para Sempre